Valores, exames necessários, documentos que podem ser solicitados, acompanhamento ginecológico… Leia o que é preciso saber antes de colocar o DIU.
O dispositivo intrauterino, popularmente conhecido como DIU, é um método contraceptivo a longo prazo que impede o contato dos espermatozóides com os óvulos. O objeto em formato de T é inserido no útero e possui duas grandes classificações: hormonal, como o DIU Mirena ou Kyleena, e não hormonal, como o DIU revestido de cobre ou de prata.
Os primeiros, hormonais, além da contracepção ajudam ainda no controle de sangramentos vaginais e na reposição de hormônios. Já os segundos alteram a secreção uterina para impedir a fecundação, mas não afetam a ovulação ou o ciclo menstrual. Por outro lado, geralmente têm como efeito colateral o aumento do fluxo sanguíneo durante a menstruação. Ambos possuem eficácia na prevenção de gravidezes indesejadas de mais de 99%.
O DIU é indicado para mulheres que procuram uma solução reversível e não se adaptam ou possuem contraindicações, por exemplo, ao uso de pílulas anticoncepcionais. No entanto, a decisão da inserção do dispositivo e do modelo/material mais adequado é bastante individual, pois depende da avaliação de diversos fatores entre o médico e a paciente.
Mas, uma vez decidido por esse método, qual é o próximo passo? Como conseguir a inserção do DIU, seja no sistema público ou privado? A dra. Thais Travassos, ginecologista e obstetra da clínica Viver Bem e voluntária da Santa Casa de São Paulo, responde às principais dúvidas.
Qual profissional devo procurar para colocar o DIU?
Os ginecologistas são os profissionais que realizam a inserção do DIU com mais frequência, mas alguns médicos da família também recebem a preparação necessária para o procedimento.
“Nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), dependendo de quem for o médico assistindo a paciente, ele mesmo já pode fazer a colocação. Quando o profissional não tem essa capacitação, ele encaminha para o ginecologista”, explica a dra. Thais.
Esse primeiro contato é muito importante para tirar todas as dúvidas sobre o DIU e entender, em conjunto com o médico, qual é a opção mais apropriada para o seu caso.
Quais exames são necessários?
Antes da inserção do DIU, o ginecologista ou o médico da família costuma solicitar três avaliações principais: o exame físico, o Papanicolaou e a ultrassonografia transvaginal.
O exame físico avalia principalmente a região das genitálias para conferir se não existem alterações menstruais, corrimentos, dores inexplicadas ou outros problemas que mereçam atenção. Já o Papanicolaou investiga as células do colo do útero, a fim de descobrir se há algum tipo de lesão patológica ou cancerígena.
“O ultrassom transvaginal, por fim, avalia as dimensões do útero para ver se não há nenhuma variação anatômica. Ainda que estes dois últimos exames não sejam obrigatórios, é comum que sejam solicitados”, detalha a médica.
É preciso de autorização do parceiro ou responsável legal?
Recentemente, um grupo de operadoras de planos de saúde em São Paulo foi denunciado por exigir a autorização do marido das pacientes casadas para a implantação do DIU. A prática, no entanto, é ilegal e não pode ser requerida.
Como destaca a dra. Thais, a autorização para o procedimento deve ser concedida pela própria paciente. Geralmente, os serviços têm um termo de consentimento por se tratar de um procedimento cirúrgico, que serve para que a pessoa saiba de todos os riscos e benefícios antes de sua realização.
Caso a paciente seja menor de idade, é o responsável legal quem tem de assinar o documento. “Principalmente na rede pública, há situações em que o DIU de cobre é inserido no pós-parto imediato ou após um abortamento. Se a gente tem uma paciente jovem que não pretende engravidar nos próximos anos, é possível fazer essa colocação, mas o responsável por ela tem que autorizar”, pontua a ginecologista.
Como o DIU é colocado?
A dra. Thais afirma que o mais comum é que a colocação do DIU seja feita no próprio consultório, já que é um procedimento relativamente simples que dura de 15 a 30 minutos.
A médica explica que a paciente fica na posição ginecológica, isto é, deitada com as pernas flexionadas e afastadas, para receber o exame físico. Então, é realizada uma assepsia da região, limpando o colo do útero para prevenir infecções. Depois, o ginecologista avalia o tamanho, a posição e a mobilidade deste colo e parte para a medição da profundidade e da direção do útero com uma régua chamada histerômetro. Avaliações feitas, ele insere o DIU. Todo o processo pode e costuma ser feito dentro do próprio consultório.
Tem anestesia?
“Alguns profissionais conseguem aplicar uma anestesia local. Podemos ainda optar por encaminhar mulheres que sentem muita dor, desconforto ou possuem o colo do útero estenosado, ou seja, muito fechado, para o centro cirúrgico. Mas é uma decisão particular para casos específicos, não é a rotina”, explica.
Se achar necessário, a paciente pode pedir a anestesia, mas precisa ter em mente que isso irá gerar uma internação. No sistema privado, serão, consequentemente, mais custos com a permanência no hospital, com o profissional anestesista e com o deslocamento. No sistema público, apesar de não haver gastos extras, também não é tão simples: a ginecologista diz ser bastante raro conseguir a internação pelo SUS somente para a colocação do DIU. Entretanto, a anestesia local ou o uso de analgésicos costumam ser suficientes para aliviar o incômodo do procedimento.
Quanto custa para colocar um DIU?
Os preços do procedimento variam de acordo com o consultório, o profissional e o tipo de dispositivo intrauterino, podendo ir de R$ 500 a R$ 2.500. Quando inserido como forma de anticoncepção, tanto a cirurgia quanto a aquisição dos DIUs Mirena, Kyleena e de cobre devem ser obrigatoriamente custeados pelos planos de saúde, segundo a Resolução Normativa n° 465/2021 da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Muitas operadoras, inclusive, destinam a paciente a centros específicos para a colocação. Se ela optar por fazer com o médico particular, alguns serviços também conseguem ceder o reembolso.
Quanto ao custo do DIU, o valor muda de acordo com o modelo e o material escolhido. Enquanto os DIUs de cobre estão na faixa de R$ 150 a R$ 200, os de prata custam em média R$ 300 a R$ 380. Já os hormonais, como o Mirena e o Kyleena, ficam em torno de R$ 800 e R$ 900.
E se eu fizer tudo pelo SUS?
Segundo a dra. Thais, no serviço público, a diferença é que há maior facilidade em encontrar gratuitamente o DIU de cobre, tanto a nível de assistência primária quanto de grandes maternidades. Entre os hormonais, apenas o Mirena é coberto pelo SUS, frequentemente voltado para o tratamento de patologias como endometriose, miomatose ou doenças uterinas que precisem de controle de sangramento. Os de prata, porém, não estão disponíveis entre os serviços públicos.
Outra particularidade é que as unidades podem recomendar a participação da paciente em um grupo de planejamento com médicos, assistentes sociais, enfermeiros e psicólogos para que ela conheça todos os métodos anticoncepcionais disponíveis antes da colocação do DIU. Essa etapa não é obrigatória.
Depois da colocação do DIU, preciso voltar ao ginecologista?
Sim. “Não existe uma regra específica quanto ao retorno, mas é comum que o médico realize um ultrassom após a inserção. Pode ser de forma imediata, logo depois do procedimento, ou em um período de 30 dias. Serve para conferir se o DIU está na posição certa”, afirma a ginecologista.
Posteriormente, o acompanhamento é periódico, podendo ser realizado a cada seis meses ou a cada um ano. Nos primeiros meses, a frequência tende a ser maior, já que podem acontecer variações de cólica e sangramento. Depois, é provável que a paciente tenha apenas que realizar um ultrassom rotineiro para avaliar a acomodação do DIU.
Quais são os cuidados necessários depois da colocação?
“Quanto à contracepção, a paciente pode ficar tranquila. O que ela não pode deixar de fazer é usar preservativo, pois o DIU não protege contra infecções sexualmente transmissíveis”, lembra dra. Thais.
Além disso, caso o DIU seja hormonal e a colocação não tenha sido feita nos primeiros 7 dias da menstruação, é preciso esperar mais 7 dias até que o dispositivo comece a fazer efeito. Nesse período, a camisinha também é indispensável para não correr o risco de uma gravidez indesejada.
Durante as relações sexuais ou a masturbação, pode ser que a mulher sinta o fio do DIU, tendo em vista que ele se estende até a vagina por um comprimento aproximado de 2 cm. No entanto, se houver dor ou desconforto, o melhor a fazer é procurar o ginecologista.
Quanto tempo dura o DIU?
Os DIUs de cobre, como os oferecidos pelo SUS, têm duração de até 10 anos, enquanto o DIU de prata e os hormonais geralmente se mantêm por até 5 anos. Os mini DIUs, isto é, aqueles com dimensões reduzidas, precisam ser trocados a cada 3 anos. “Em alguns casos, a gente consegue postergar por um pouquinho mais de tempo, mas isso é muito individualizado”, diz a dra. Thais.
No dia da troca, um único procedimento é suficiente para retirar o dispositivo que já estava no útero e inserir o novo. Os planos de saúde também são obrigados a cobrir essa segunda intervenção, mas não se responsabilizam se a paciente se arrepender e quiser tirar o DIU. Em caso de qualquer problema com a operadora, consulte a Central de Atendimento da ANS.
Fonte: https://drauziovarella.uol.com.br/mulher-2/ginecologia/tudo-sobre-o-diu-quanto-custa-e-outras-duvidas/