“Meu corpo não me permite fazer sexo e, quando faço, é como se alguém estivesse me esfaqueando”.
É assim que a britânica Hannah Van de Peer descreve suas relações sexuais.
Ela sofre de uma condição chamada vaginismo, que afeta uma a cada 500 mulheres no Reino Unido.
Vaginismo é a contração involuntária dos músculos próximos à vagina, o que dificulta ou até impede a penetração pelo pênis durante a relação sexual.
As causas são variadas e podem aparecer em qualquer momento da vida da mulher, como depois de episódios como cândida, parto, trauma sexual ou menopausa.
Mas algumas mulheres podem descobrir que têm o transtorno quando tentam – e não conseguem – fazer sexo pela primeira vez.
Vergonha e tabu acabam impedindo muitas delas de buscar ajuda, apesar de a condição ser curável.
Segundo a ginecologista Leila Frodsham, o vaginismo é um dos “poucos tabus sexuais que ainda existem e que destroem a vida das pessoas”.
“É muito normal ficar preocupada com a primeira vez e todas nós provavelmente já passamos por isso, mas mulheres com vaginismo podem viver com isso por toda a vida”, diz.
“Muitas delas normalmente descrevem a condição como se estivessem sendo esfoladas ou cortadas. Ou até mesmo como se houvesse agulhas enfiadas na pele”, acrescenta.
Sexo e dor
Hannah conta que frequentou uma escola religiosa e que essa experiência a afetou profundamente.
“Ali me ensinaram que as mulheres não podem ter prazer com o sexo, que o sexo é doloroso; que causa doenças sexualmente transmissíveis ou gravidez”, diz.
“Sempre me falaram que perder a virgindade doeria muito; para mim, era como se fosse uma barreira intransponível. Minha sensação é como se enfiassem uma faca em mim e a torcessem. É realmente muito doloroso”, acrescenta.
Quando Hannah percebeu que havia algo errado com sua vagina, sentiu-se como se não tivesse feito “a transição de menina para mulher”.
“Desde que comecei a falar publicamente sobre isso, conversei com várias mulheres que também sofrem do mesmo mal. É uma sensação de solidão, como se não pudéssemos falar sobre isso com ninguém. Acho que as mulheres precisam entender que qualquer uma de nós pode ser acometida por este transtorno.”
Para Frodsham, o vaginismo também pode ter fundo emocional.
“Sexo é complicado. Sexo não é só físico. Se fosse, bastaria tomar um remédio para curar qualquer problema. Mas todas temos as nossas percepções, valores com os quais crescemos, nossas crenças, nossas próprias experiências sexuais que definem como nos sentimos sobre o sexo”, diz.
“Sempre me perguntam se acho que a educação religiosa pode ser um das causas para o vaginismo. Não há dúvida de que sim”.
“Acho que há muitas mulheres que crescem neste tipo de ambiente e não têm problema nenhum com isso”, acrescenta.
“Mas há outras que são como esponjas e acabam absorvendo todos os valores espalhados pelo imaginário popular. Um deles, por exemplo, é de que o sexo será bastante doloroso na noite de núpcias e de que é preciso haver sangue para provar a virgindade”.
Amina (nome fictício) também sofre com o transtorno.
Ela tem origem muçulmana e diz que, embora não tenha tido que provar que era virgem quando casou, “esse pensamento permeou toda a minha vida”.
“Na minha noite de núpcias, não houve nenhum problema com a intimidade, porque já éramos muito próximos, mas senti como se meu corpo estivesse se fechando e não consegui abrir minhas pernas porque me senti com muito medo”, lembra.
“Era uma sensação de queimação; o músculo se contraía. É difícil falar sobre isso, porque as pessoas não entendem. Elas acham que você está exagerando ou inventando”, acrescenta.
Cura
Segundo Frodsham, o vaginismo é “totalmente curável”.
“A mulher pode usar seu polegar para massagear o músculo do assoalho pélvico. A partir daí, o músculo relaxa porque elas se sentem mais confortáveis e percebem que a vagina é grande o suficiente para fazer sexo”.
Enquanto isso, tanto Hannah quanto Amina esperam poder sentir prazer ao ter relações sexuais.
“Estou casada há mais de cinco anos. Uso dilatadores. São de diferentes tamanhos; começa do menor para o maior. Quando chega ao maior, pode fazer sexo”, explica Amina.
“Sinto que melhorei bastante. Ainda acho difícil ter sexo com penetração. Então, estou usando tampão vaginal e pequenos vibradores para facilitar a penetração”, diz Hannah.
“Fico muito feliz que as pessoas estejam falando mais abertamente sobre isso”, conclui.
Fonte: G1